Ataque virtual preocupa Reino Unido

País recomenda combate ao terror cibernético, apesar de cortes do orçamento.

Por Fernando Durte
O Globo

LONDRES - O terrorismo, especialmente em sua forma cibernética, encabeça uma lista de prioridades no Reino Unido como parte da reformulação de seu sistema de defesa. E que não só escapará da política de cortes públicos que inclui uma redução de 8% ao longo de quatro anos no orçamento do Ministério da Defesa, como ganhará verbas extras. As medidas fazem parte de um estudo divulgado ontem pelo Comitê de Segurança Nacional e que relaciona 16 tipos de ameaças - desde atentados a epidemias de doenças como a gripe, passando por desastres naturais.

Mas, é o chamado e-terrorismo que aparece com destaque no documento, tanto por constar na categoria de maior periculosidade quanto pelas informações de que ataques virtuais ao Reino Unido podem ser muito mais iminentes que atentados mais convencionais, ainda que nas últimas semanas o nível de alerta tenha sido elevado para o segundo mais alto da escala. Na semana passada, a Agência Nacional de Inteligência em Comunicações (GCHQ) revelou que redes governamentais britânicas têm recebido pelo menos 20 mil emails maliciosos por mês.

A questão da segurança eletrônica ganhou destaque na Europa depois dos ataques cibernéticos que em 2007 paralisaram a Estônia por alguns dias, numa ação atribuída a hackers russos revoltados com a decisão do governo do país báltico de retirar do centro da capital, Tálin, uma estátua em homenagem aos soldados soviéticos mortos na Segunda Guerra Mundial.

Recentemente, porém, o anúncio de que um vírus, o Stuxnet, foi usado em uma tentativa de sabotagem de uma usina nuclear iraniana, causou furor por ser o primeiro ataque deliberadamente dirigido à infraestrutura de um país. Assim como no caso estoniano, há suspeitas de ações patrocinadas por governos e não simplesmente atividades independentes.

Defesa: cortes podem ser os maiores desde a 2ª Guerra

No entanto, teme-se que grupos extremistas também possam começar a fazer uso do front virtual.

"Métodos eletrônicos são mais baratos e acessíveis para terroristas, que poderiam usar ataques cibernéticos para interromper o funcionamento de usinas de força, por exemplo. Autoridades americanas já falam que um ataque cibernético pode ser o novo Pearl Harbour", explica Malcolm Rifkind, diretor da comissão de Segurança e Inteligência do Parlamento.

Não por acaso, a titular da pasta do interior, Theresa May, anunciou ontem uma verba de US$ 800 bilhões para investimentos na defesa eletrônica de pontos-chaves da infraestrutura do país, incluindo instalações militares. Hoje, no entanto, serão anunciados cortes específicos nas Forças Armadas. Especula-se que eles incluirão as maiores reduções de pessoal e equipamentos desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

* Matéria publicada no caderno O Mundo, página 31, do Jornal O Globo de terça-feira, 19/10/10

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